terça-feira, 3 de março de 2015

A perseguição e o fanatismo dos conservadores de Silvio Marques

por Solon Neto

Ao longo do regime militar uma série de grupos anticomunistas se formou em vista do avanço do comunismo. A insatisfação dos setores conservadores se condensou em valores para esses grupos, que surgiam mesmo antes do golpe militar de 1964 que deflagrou a ditadura no Brasil. Em Bauru, houve maior atuação de um grupo: a FAC, Frente Anticomunista de Bauru.

A FAC nasceu entre os anos de 1962 e 1963, liderada e organizada pelo professor de Direito da ITE, Instituição Toledo de Ensino, Silvio Marques Jr. O grupo atuou até 1968, perseguindo e prendendo qualquer cidadão cujas atitudes levantassem suspeitas de atividades comunistas. Liderando o grupo, Silvio Marques instaurou um clima de terror na cidade de Bauru, devido ao teor arbitrário das prisões e perseguições que ele e seu grupo efetuavam junto à polícia.

A organização de Silvio Marques era formada por homens e mulheres de várias faixas etárias, que se auto denominavam “legionários”. Eles recebiam treinamento de luta e tiro, e contavam com o apoio direto dos militares brasileiros, da polícia, e do governo dos Estados Unidos, que lhes enviava material de propaganda anticomunista.

Silvio Marques era um católico convicto e fervoroso, e acreditava que o comunismo era completamente contra os valores da igreja católica. O líder da FAC atribuiu a esse fato toda a perseguição e tortura que operou, justificando casos como o de Edson Shinohara, que teve os dentes partidos à coronhadas de metralhadora depois de ser preso pela FAC.

Para Antonio Pedroso Jr., memorialista bauruense, a FAC foi uma organização superestimada pelo próprio líder, Silvio Marques, que dizia ter dezenas de milhares de legionários inscritos em sua organização. Apesar de ter muitos legionários, ele acredita que a organização não tinha tanto poder, porém mantinha grande atuação.

À direita, Silvio Marques: de olhos fechados para a liberdade (foto: Acervo de Teresinha Zanloch)

Invasão do jornal Última Hora

Em 1964, ainda antes do golpe militar, o jornal “Última Hora” publicou uma matéria sobre os treinamentos militares oferecidos pela FAC aos seus legionários. As fotos da matéria mostravam os legioná- rios empunhando armas nos treinamentos. A matéria foi mal vista pelo grupo, levando-se em conta que o Última Hora era um jornal popular de cunho trabalhista, o que era o bastante para ser considerado comunista. No mesmo ano, pouco depois do golpe, a sucursal do Jornal Útima Hora foi invadida e completamente destruída pelos legionários da FAC. O ex-chefe de reportagem da sucursal bauruense, e hoje jornalista da Rádio 96FM, Zarcillo Barbosa, foi testemunha da invasão da sucursal em Bauru, localizada na rua Virgílio Malta. A invasão se deu no dia 15 de abril, pouco depois do fechamento às 22h. Os legionários da FAC vieram de caminhão, todos encapuzados e armados com revólveres e machados. Havia apenas dois jornalistas no prédio, Laudze Menezes e o fotógrafo Celestino Distefano, que foram ambos imediatamente amarrados, encapauzados e trancados no laboratório fotográfico. Os “legionários” destruíram a redação a machadadas e tiros, inutilizando textos, arquivos e máquinas de escrever. Logo depois fugiram no mesmo caminhão em que vieram. A FAC tinha espiões que trabalhavam dentro do próprio Última Hora, que foram avisados sobre a invasão a tempo. Segundo Zarcillo, esses jornalistas misteriosamente faltaram naquele dia. Na mesma noite, os legionários invadiram também a sede da Superintendência pela Reforma Agrária, a SUPRA. 

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